panorâmicas

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a evolução do homem

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

idiotice é vital pra felicidade

gente chata essa que quer ser séria, profunda, visceral. putz, coisa pentelha. a vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado do schopenhauer? deixe a pungência para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores. no dia-a-dia, pelo amor de deus, seja idiota. ria dos próprios defeitos, tire sarro de suas inabilidades. ignore o que o boçal do seu chefe proferiu. pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. pobre dele.

milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, objetivos claramente traçados mas não consegue rir quando tropeça? que sabe resolver uma crise familiar mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? sim, porque é bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. e daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar? em suma: desaprenderam a brincar. eu não quero alguém assim comigo. a realidade já é dura; piora se for densa. dura e densa, ruim. brincar, legal. entendeu?
esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não se descontrolar, não demonstrar o que sente. é muito não. dá pra ser feliz com tanto não? pagar as contas, ser bem- sucedido, amar, ter filhos - tarefa brava. piora, muito, com o peso de todos aqueles nãos. tenha fé em uma coisa: dá certo ser adulto e idiota. aliás, tudo fica bem mais fácil ser for regado a idiotice, bom humor. manuel bandeira foi um grande homem e um grande poeta. disse certa vez: "e por que essa condenação da piada, como se a vida fosse só feita de momentos graves ou só nesses houvesse teor poético?" estava certo.

empine pipa !!!!!!!!! adultos podem (e devem) contar piadas, ir ao fliperama, beliscar a bunda da mulher, sair pelados pela cozinha. ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" aceitável. teste a teoria. uma semaninha, pra começar. veja e sinta as coisas como se elas fossem o que são: passageiras. a briga, a dívida, a dor, a raiva, tudinho vai passar, então pra que tanta gravidade? já fez tudo o que podia para resolver o problema? parou, chorou, pediu arrego? ótimo, hora da idiotice: entre na internet, jogue pebolim, coma um churrasco grego. ta numas de empinar pipa no sábado? vá. quer conversar com sua namorada imitando o pato donald mas acha muito boçal? e é, mas e daí? você realmente acha que ela vai gostar menos de você por isso? ela não vai, tenha certeza. só vai gostar mais, porque é delicioso estarmos com quem sorri e ri de si mesmo. eu fico chateada por não ser tão idiota quanto gostaria; tenho uma mania horrível de, sem querer, recair na seriedade. então o mundo fica cinza e cada lágrima ganha o peso de uma bigorna. nessas horas não preciso de cenhos franzidos de preocupação. nessas horas tudo de que preciso é uma bela, grande e impagável idiotice. como sair pra jogar paintball - ou, melhor ainda, me olhar fixamente no espelho até notar como fico feia com os olhos vermelhos e o nariz escorrendo. como fico ridícula quando esqueço que tudo passa.

(ailin aleixo é colunista da revista vip, onde este artigo foi originalmente publicado)

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