panorâmicas

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a evolução do homem

segunda-feira, 18 de abril de 2005

a gente se acostuma

"eu sei que a gente se acostuma, mas não deveria. a gente se acostuma a morar num apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. e porque não tem outra vista, logo se acostuma a não olhar para fora. e porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. e porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. e porque, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. a gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. a tomar café correndo porque está atrasado. a ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem. a comer sanduíches porque já é noite. a cochilar no ônibus porque está cansado. a deitar cedo e a dormir pesado sem ter vivido o dia. a gente se acostuma a abrir o jornal e ler sobre a guerra. e, aceitando a guerra, aceita os mortos, e que haja número para os mortos. e, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. e, não aceitando as negociações de paz, aceita ler todo dia de guerra, dos números da longa duração . a gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: 'hoje não posso ir'. a sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. a ser ignorado quando precisava tanto ser visto. a gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. e a lutar para ganhar o dinheiro com o que paga. e a ganhar menos do que precisa. e a fazer fila para pagar. e a pagar mais do que as coisas valem. e a saber que cada vez pagará mais. e a procurar mais trabalho para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra. a gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. a ligar a televisão e assistir a comerciais. a ir ao cinema , a engolir publicidade. a ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. a gente se acostuma à poluição. à luz artificial de ligeiro tremor. ao choque que os olhos levam na luz natural. às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. à contaminação da água do mar. à luta. à lenta morte dos rios. e se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta. a gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. em doses pequenas, tentando não perceber. vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana. e se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. a gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. a gente se acostuma para poupar a vida, que, aos poucos, se gasta e que, de tanto se acostumar, se perde de si mesma..."

(autor desconhecido)

sexta-feira, 4 de março de 2005

lindo e triste brasil

nada que a gente escreva ou conte é capaz de retratar com fidelidade o que é conhecer o brasil. não conheço muita coisa, pretensão minha, mas alguns lugares agrestes (e bota agrestes nisso) eu já fui, e posso contar um pouco. acre, mato grosso do sul, mato grosso, rondônia, bahia, sergipe, pernambuco... tem muita terra pra conhecer, mas o pouco que eu já vi, me faz cada dia amar mais e mais nosso país. cada lugar é um sotaque, um prato típico, um povo, uma lenda, uma banda, uma música, um sol, um céu, um sorriso. cada dia aprendo uma palavra nova, e vejo um olhar diferente, de um povo machucado, que ainda sabe, "sofrendo, cantar e sorrir"... é uma coisa indescritível, que só vivendo pra entender. tem uma música do toquinho, que de maneira esplendorosa, canta um pouco de toda essa emoção.

sou nascido
aqui mesmo neste país
tão gigante
tão franzino
seu destino ao deus dará.
rios e fontes aos montes
e dunas de areia em beira de mar

tudo aqui é mesmo tão lindo morena
pena que o homem não pensa em cuidar
a solidão é viver sem ninguém
em quem poder confiar.

minha gente
é gente deste país
povo lindo
chora rindo
canta na sapucaí.
entre enredo e passista
misturam-se médico, artista e gari.
com muito pouco que temos
ainda sabemos sofrendo, cantar e sorrir
sou do país do futuro
futuro que insiste em não vir por aqui.

somos muitos
e muito podemos fazer
vai rolinha
pintassilgo
voa andorinha
aí tici
nadem golfinhos e peixes
nas águas dos mares, dos lagos e dos rios
quem sabe ainda veremos
o que o poetinha um dia
sonhou, mas não viu.
pátria minha patriazinha, tadinha.
lindo e triste brasil.

(toquinho)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

maria a bahia

pois é gente, faz tempo que não posto nada! desde a despedida, no dia 21 de janeiro. depois dessa data... na quarta seguinte, saí de carro rumo à bahia, e cá estou, cheia de coisas interessantes pra contar. chegamos bom, nossa viagem foi show. uma paisagem maravilhosa, que muda a cada hora de trânsito, desde a mata atlântica, às fazendas de gado e cacau, ao cerrado e caatinga, ao litoral e à selva de pedra sulista. o preço do coco diminui a medida que você sobre o país e os sorrisos aumentam. as ruas também começam a ficar um pouco mais esburacadas e o calor cada vez maior. só viajando pra acreditar. vitória e vila velha são duas cidades lindas, e as praias do espirito santo, inacreditáveis. aqui em cima, a adaptação não é fácil. eu que sempre critiquei os curitibanos, que eram fechados e pouco solícitos, cheguei numa terra em que é justamente o contrário, o oposto mesmo, e nem sempre é tão melhor. a gente perde um pouco a liberdade, o lívre arbítrio. todos querem ajudar tanto que a gente se sente meio talhado, preso, sem poder agir com independência. talvez seja o impacto tão grande, a diferença brutal.aqui, todo mundo reconhece a gente (no caso, eu e minha mãe). fora a cor da pele, o cabelo loiro, a altura e o sotaque, somos quase baianas... e sabe tudo que fizemos, de onde viemos e pra onde vamos. meu trabalho na us ainda não começou mas em breve vai dar flores e vou colher frutos. oportunidades e possibilidades existem e acho que com o tempo vai dar pra fazer muita coisa. já alugamos minha casa, e já compramos fogão, geladeira, máquina de lavar e colchão! amanhã compraremos pratos, talheres e vassouras. quem diria, heim naná? ainda estou sem telefone e sem computador e às vezes uso o computador do hotel. quem não recebeu email, não fique chateado. tenho enviado pra quem em lembro o email de cabeça. assim que estiver online e telefonável, aviso todo mundo. por enquanto, por aqui vou tentar mandar algumas coisas e quem conhece quem me conhece que nos conhece que se conhecem, perguntem novidades, e mandem novidades. beijo em todos e muita saudade!