panorâmicas

panorâmicas
a evolução do homem

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

título? não sei. autor? interrogado. vale a pena? muito.

a vida é o dever, que nós trouxemos para fazer em casa.
quando se vê, já são seis horas!
quando se vê, já é sexta-feira...
quando se vê, já é natal...
quando se vê, já terminou o ano...
quando se vê, perdemos o amor da nossa vida...
quando se vê, passaram-se 50 anos! agora, é tarde demais para ser reprovado...
se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio...
seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas...
seguraria o amor, que está muito à minha frente, e diria que eu amo...
dessa forma, eu digo: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
não deixe te ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
a única falta que terá, será a desse tempo que infelizmente...
nunca mais voltará.

(mário quintana???)

quarta-feira, 15 de setembro de 2004

o único defeito da mulher

se uma memória restou das festinhas e reuniões de familiares da minha infância, foi a divisão sexual entre os convivas: mulheres de um lado, homens do outro. não sei se hoje isso ainda ocorre. sou anti-social ao ponto de não freqüentar qualquer evento com mais de 4 pessoas, o que não me credencia a emitir juízo. mas era assim que a coisa rolava naqueles tempos. tive uma infância feliz: sempre fui considerado esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar quieto observando a paisagem. bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia muito além das diferenças anatômicas.

a fronteira era determinada pelos pontos de vista, atitude e prioridades.

explico: no "córner" masculino imperava o embate das comparações e disputas. meu carro é mais potente, minha tv é mais moderna, meu salário é maior, a vista do meu apartamento é melhor, o meu time é mais forte, eu dou 3 por noite e outras cascatas típicas da macheza latina. já no "córner" oposto, respirava- se outro ar.

as opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir. falava- se de sentimentos, frustrações e recalques com uma falta de cerimônia que me deliciava. os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como fofoca. discordo.

destas reminiscências infantis veio a minha total e irrestrita paixão pelas mulheres. constatem, é fácil. enquanto o homem vem ao mundo completamente cru, freqüentando e levando bomba no be-a-bá da vida, as mulheres já chegam na metade do segundo grau. qualquer menina de 2 ou 3 anos já tem preocupações de ordem prática.

ela brinca de casinha e aprende a dar um pouco de ordem nas coisas. ela pede uma bonequinha que chama de filha e da qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe veterana. ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia muito clara do que vem a ser isso. em outras palavras, ela já chega sabendo. e o que não sabe, intui.

já com os homens a historia é outra. você já viu um menino dessa idade brincando de executivo? já ouviu falar de algum moleque fingindo ir ao banco pagar as contas? já presenciou um bando de meninos fingindo estar preocupados com a entrega da declaração do imposto de renda? não, nunca viram e nem verão.

porque o homem nasce, vive e morre uma existência infanto juvenil. o que varia ao longo da vida é o preço dos brinquedos. aí reside a maior diferença: o que para as meninas é treino para a vida, para os meninos é fantasia, é competição. então a fuga os acompanha o resto da vida, e não percebe quanto tempo eles perdem com seus medos. falo sem o menor pudor.

sou assim. todo homem é assim. em relação ao relacionamento homem/mulher, sempre me considerei um privilegiado. sempre consegui enxergar a beleza física feminina mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes, ela inexistia. porque toda mulher é linda. se não no todo, pelo menos em algum detalhe. é só saber olhar. todas têm sua graça. e embora contaminado pela irreversível herança genética que me faz idolatrar os ícones de cafajestismo, sempre me apaixonei perdidamente por todas as incautas que se aproximaram de mim. incautas não por serem ingênuas, mas por acreditarem...

porque toda mulher acredita firmemente na possibilidade do homem ideal.

e esse é o seu único defeito.

(sérgio gonçalves, redator da loducca, publicado no jornal da agência)

a lista

faça uma lista de grandes amigos
quem você mais via há dez anos atrás
quantos você ainda vê todo dia
quantos você já não encontra mais
faça uma lista dos sonhos que tinha
quantos você desistiu de sonhar
quantos amores jurados pra sempre
quantos você conseguiu preservar
onde você ainda se reconhece na foto passada ou no espelho de agora
hoje é do jeito que achou que seria?
quantos amigos você jogou fora
quantos mistérios que você sondava
quantos você conseguiu entender?
quantos defeitos sanados com o tempo
eram o melhor que havia em você
quantas mentiras você condenava
quantas você teve que cometer
quantas canções que você não cantava
hoje assobia pra sobreviver
quantos segredos que você guardava
hoje são bobos ninguém quer saber
quantas pessoas que você amava
hoje acredita que amam você?

(osvaldo montenegro)

sábado, 14 de agosto de 2004

terça-feira, 10 de agosto de 2004

metade

que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio.
que a música que eu ouço ao longe seja linda,
e sem tristeza.
que a mulher que eu amo seja sempre amada,
mesmo que distante.
porque metade de mim é partida
e a outra metade é saudade.
que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor:
apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço;
que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada,
porque metade de mim é o que eu penso
e a outra metade é um vulcão.
que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo
se torne - ao menos - suportável;
que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância,
porque metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade, eu não sei...
que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
e que o teu silêncio me fale cada vez mais,
porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.
que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
porque metade de mim é a platéia
e a outra metade, a canção.
e que minha loucura seja perdoada.
porque metade de mim é amor
e a outra metade... também !

(osvaldo montenegro)

domingo, 8 de agosto de 2004

canção de vidro

e nada vibrou
não se ouviu nada
nada
mas o cristal nunca mais deu o mesmo som
cala, amigo
cuidado, amiga
uma palavra só pode tudo perder para sempre
e é tão puro o silêncio agora!

(mário quintana)

sábado, 7 de agosto de 2004

torcida

mesmo antes de nascer, já tinha alguém torcendo por você. tinha gente que torcia para você ser menino. outros torciam para você ser menina. torciam para você puxar a beleza da mãe, o bom humor do pai. estavam torcendo para você nascer perfeito. daí continuaram torcendo. torceram pelo seu primeiro sorriso, pela primeira palavra, pelo primeiro passo. o seu primeiro dia de escola foi a maior torcida. e o primeiro gol, então? e de tanto torcerem por você, você aprendeu a torcer. começou a torcer para ganhar muitos presentes e flagrar papai noel. torcia o nariz para o quiabo e a escarola. mas torcia por hambúrguer e refrigerante. começou a torcer até para um time. provavelmente, nesse dia, você descobriu que tem gente que torce diferente de você. seus pais torciam para você comer de boca fechada, tomar banho, escovar os dentes, estudar inglês e piano. eles só estavam torcendo para você ser uma pessoa bacana. seus amigos torciam para você usar brinco, cabular aula, falar palavrão. eles também estavam torcendo para você ser bacana. nessas horas, você só torcia para não ter nascido. e por não saber pelo que você torcia, torcia torcido. torceu para seus irmãos se ferrarem, torceu para o mundo explodir. e quando os hormônios começaram a torcer, torceu pelo primeiro beijo, pelo primeiro amasso. depois começou a torcer pela sua liberdade. torcia para viajar com a turma, ficar até tarde na rua. sua mãe só torcia para você chegar vivo em casa. passou a torcer o nariz para as roupas da sua irmã, para as idéias dos professores e para qualquer opinião dos seus pais. todo mundo queria era torcer o seu pescoço. foi quando até você começou a torcer pelo seu futuro. torceu para ser médico, músico, advogado. na dúvida, torceu para ser físico nuclear ou jogador de futebol. seus pais torciam para passar logo essa fase. no dia do vestibular, uma grande torcida se formou. pais, avós, vizinhos, namoradas e todos os santos torceram por você. na faculdade, então, era torcida pra todo lado. para a direita, esquerda, contra a corrupção, a fome na albânia e o preço da coxinha na cantina. Ee de torcida em torcida, um dia teve um torcicolo de tanto olhar para ela. primeiro, torceu para ela não ter outro. torceu para ela não te achar muito baixo, muito alto, muito gordo, muito magro. descobriu que ela torcia igual a você. e de repente vocês estavam torcendo para não acordar desse sonho. torceram para ganhar a geladeira, o microondas e a grana para a viagem de lua-de-mel. e daí pra frente você entendeu que a vida é uma grande torcida. porque, mesmo antes do seu filho nascer, já tinha muita gente torcendo por ele. mesmo com toda essa torcida, pode ser que você ainda não tenha conquistado algumas coisas. mas muita gente ainda torce por você!

(carlos drummond de andrade???)

domingo, 1 de agosto de 2004

tem um cd do oswlado montenegro que chama "letras brasileiras". na versão ao vivo deste cd ele canta músicas de diversos compositores, e sob diversas temáticas: ele comenta sobre os repentistas, compositores antigos, sambas, músicas saudosistas e também canta canções de 'ainda desconhecidos'... dentre os desconhecidos, ele simplesmente arrasa com uma música de beto brasiliense, chamada pó. a letra em si já é demais, cantada então...só ouvindo mesmo.

tu és pó, eu ao pó reverteres.
em verdade, é só isso que queres.
vem do sol, o que queima e as cores.
amanhã, teu pó serão flores.
quando sinto no pescoço um nó.
vem o vento e me sopra eu sou pó.

(beto brasiliense)

dá um alívio, não dá?