panorâmicas

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a evolução do homem

quinta-feira, 27 de março de 2008

visto de partida

prevew:
petrolina fica à beira do rio são francisco e em torno dela existe um projeto de irrigação do vale, projeto de irrigação senador nilo coelho, de alguns pouco mais de 30Km de raio de extensão. o projeto é divivido em bairros, os núcleos, e em cada núcleo existe uma sede, a vila, onde tem casas e moram os trabalhadores das fazendas dispersas no vale e no projeto. lagoa grande é uma cidade que fica a 50km de petrolina e a uns 20Km dos projetos.
essa é curta mas é curiosa.

senhor antônio, um senhor idoso, 75 anos, paciente da unidade de saúde, em lagoa grande/pe. hipertenso, chegou à consulta, ansioso e preocupado, porque queria viajar. queria ferias. "pois não seu antônio, e o que foi que houve então?" sr antônio, solicita: "a senhora autoriza que eu vá tirar férias?", mas eu? autorizar? lógico! sou apenas a médica. ao menos, questionei, pra onde ele iria: "pra casa do meu filho, na vila do núcleo 8 do projeto nilo coelho". um senhor de 75 anos, me pedindo autorização pra viajar 20km pra casa do seu filho. acho que nunca na vida vou ouvir caso semelhante.

duas semanas depois retorna sr antônio das férias, e eu, empolgada pra saber como tinha sido, ouvi, de duas contas azuis transbordando em lágrimas que insistiam em não cair pela face, apenas inundar a órbita... "dra. foram as férias mais tristes que eu já tive, vi coisas que nunca pensei ainda ver em toda minha vida. não fui pra casa do meu filho na vila do projeto, fui pra casa da minha filha, numa acampamento de sem-terra, a uns 60km daqui. vi gente sendo assaltada todo dia, crianças maltratadas, fome e miséria. sofri, senti dor no peito, muita tristeza."

o que eu podia dizer aquele que eu tinha "autorizado" a viagem. tinha ouvido de um senhor um depoimento simples e sofrido da realidade do nosso país. "vá pra vila da próxima vez, sr antônio, sem surpresas pro seu coração!"... que outro conselho eu podia dar para alguém que depositou em mim a esperança das férias em família e ao contrário, vivenciou em família o sofrimento dos sem esperança.

(maria fernanda)

Um comentário:

Unknown disse...

Querida... Essa história eu conto para todo mundo. É tão singular!!! Um dia, você vai lembrar de todas as suas experiências com muita saudade.