panorâmicas

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a evolução do homem

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

bem que eu percebi...

a gente que vem pro nordeste tem o costume de achar que todo nordestino fala igual: o sotaque do baiano, do permabucano, do paraibano ou do cearense é sempre igual. curiosamente, a gente que vem pro nordeste tem o costume de causar a sensação que todo sulista fala a mesma coisa: o sotaque do carioca, do paulista, do paranaense ou do gaucho, é tudo a mesma coisa. venho de curitiba, falo curitibês. sou loira branquela e alta, venho de outro lugar do país. mas é só isso. meus pacientes acham isso uma atração à parte a minha profissão. em alguns lugares que trabalhei, já tive pacientes que agendaram consulta simplesmente pra poder ver de perto a doutora galega que chegou. "mas o senhor sente alguma coisa? não, doutora, só queria saber como é a senhora porque tá todo mundo comentando". já tive pacientes que me pergutaram se eu era boliviana (nego esta nacionalidade uma vez por semana, mas já estou começando a questioná-la!), colombiana, argentina, ou, bizarramente, das filipinas. mas tudo bem. o pior vem quando é a primeira consulta, a paciente passa o tempo da consulta te examinando, e vem o desfecho. você está explicando a receita, "senhora, 5mL do xarope, de seis em seis horas, ou seja, às seis da manhã, ao meio dia, às seis da tarde... vou repetir pra senhora não ter dúvida... à meia noite", e pra conferir, pergunta: "entendeu?", e a paciente docemente responde a sua pergunta, "a senhora não é daqui, é?"... bom, realmente, não entendeu, nem me escutou, não está nem aí pro tratamento, sobre o que mesmo eu falei, foi sobre átomos, fecundação ou jardinagem? e, com o mesmo sorriso paciente e dócil, respondo, sempre igual, "não senhora, não sou daqui, sou do sul do país." alguns aceitam essa afirmativa de maneira simplista, como uma resposta completa, definitiva e suficiente. outros, porém, advém com complementações, e aí sim, vale a pena conferir. "ah, do sul, bem que eu percebi pelo sotaque...", ou, "do sul? a senhora tem certeza que não é colombiana?", ou pra mim, a melhor resposta: "do sul, já tinha percebido, sou bom pra reconhecer sotaques"... meu amigo japonês (japonês, filho de japoneses, olhos puxados, assim, alguém bem típico de sua etnia nipônica) já passou por situação semelhante, "sim, sou japonês...", e a resposta, à altura... "percebi, sou boa pra reconhecer japoneses"... será que é tão difícil ser normal? (aqui, ali, ou em qualquer lugar?)...

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