panorâmicas

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a evolução do homem

terça-feira, 10 de agosto de 2004

metade

que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio.
que a música que eu ouço ao longe seja linda,
e sem tristeza.
que a mulher que eu amo seja sempre amada,
mesmo que distante.
porque metade de mim é partida
e a outra metade é saudade.
que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor:
apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço;
que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada,
porque metade de mim é o que eu penso
e a outra metade é um vulcão.
que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo
se torne - ao menos - suportável;
que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância,
porque metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade, eu não sei...
que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
e que o teu silêncio me fale cada vez mais,
porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.
que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
porque metade de mim é a platéia
e a outra metade, a canção.
e que minha loucura seja perdoada.
porque metade de mim é amor
e a outra metade... também !

(osvaldo montenegro)

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