panorâmicas

panorâmicas
a evolução do homem

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

bem vinda

dono do abandono e da tristeza
comunico oficialmente que há um lugar na minha mesa
pode ser que você venha por mero favor,
ou venha coberta de amor
seja lá como for, venha sorrindo
ah, bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
que o luar está chamando,
que os jardins estão florindo
que eu estou sozinho cheio de anseio e de esperança,
comunico a toda gente que há lugar na minha dança
pode ser que você venha morar por aqui,
ou venha pra se despedir
não faz mal pode vir até mentindo
ah, bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
que o meu pinho está chorando,
que o meu samba está pedindo que eu estou sozinho
vem iluminar meu quarto escuro,
vem entrando com o ar puro todo novo da manhã
oh vem a minha estrela madrugada,
vem a minha namorada vem amada, vem urgente, vem irmã
bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
que essa aurora está custando,
que a cidade está dormindo
que eu estou sozinho
certo de estar perto da alegria,
comunico finalmente que há lugar na poesia
pode ser que você tenha um carinho para dar,
ou venha pra se consolar
mesmo assim pode entrar que é tempo ainda
ah, bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
ah, que bom que você veio,
e você chegou tão linda
eu não cantei em vão
bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda

(chico buarque)

sábado, 9 de dezembro de 2006

a cúmplice

eu quero uma mulher
que seja diferente
de todas que eu já tive
de todas tão iguais
que seja minha amiga
amante, confidente
a cúmplice de tudo
que eu fizer a mais
no corpo tenha o sol
no coração a lua
a pele cor de sonho
as formas de maçãs
a fina transparência
uma elegância nua
o mágico fascínio
o cheiro das manhãs
eu quero uma mulher
de coloridos modos
que morda os lábios
sempre que for me abraçar
no seu falar provoque
o silenciar de todos
e seu silêncio obrigue
a me fazer sonhar
que saiba receber
que saiba ser bem-vinda
que possa dar jeitinho
a tudo que fizer
que ao sorrir provoque
uma covinha linda
de dia, uma menina
a noite, uma mulher

(juca chaves)

sábado, 2 de dezembro de 2006

questão de opção

o orgulho seja talvez o maior dos defeitos.
a sensação eminente de humilhar-se ou ser humilhado – moralmente, psicologicamente – transcende qualquer vontade mais íntima do ser humano de se sentir valorizado. ‘segure as lágrimas, olhe com desdém, seja firme e polido’. quase conseguimos levitar de tanta indiferença. o breve passa como um longo intervalo entre a esperança insignificante e o desespero perturbador. anulamos nossa ânsia simplesmente pelo fato de não querermos aceitar o abismo gutural entre o nosso, e o caráter do outro.

talvez o orgulho seja a maior das qualidades.
porque a gente olha no espelho, no espelho da alma, e percebe que caráter não faz parte do pacote uterino. caráter se faz, se cultiva, se vive, se modela. se humilhar com a intenção débil de valorizar-se não lapida caráter nenhum; gangrena-o; o faz pútrido. estimar-se é justamente não abandonar o amor que temos por nós mesmos.

na maioria das vezes, acho que fico com a segunda opção. sábia eu ao modelar meu caráter. sorte a minha ter sido presenteada com o orgulho que faz de mim, alguém que se ama. valor meu, minha dignidade.

(maria fernanda)